domingo, 7 de abril de 2013

Contos da Alice... Mantra (Parte I)



Mantra


  Dentro de um circulo perfeito, o ponteiro aponta duas e três da manhã. O minuto dele chegou. Inexoravelmente me sujeito, pois sou um escravo. Ele sussurra algo em meu ouvido. Faz tanto tempo que recebo suas visitas, que meu senso de alerta já não mais o detecta. Minutos, horas, dias, semanas, meses, anos. Sim, ele me absorveu, fazemos parte de algo único.  Nem sempre ele tem algo a me dizer. Às vezes permanece apenas estático, olhando - me, os olhos de um ladrão coronário, tocando minha consciência. Ele me disse uma vez:

- A única forma que eu tenho de pensar dentro dessa realidade, é usando a sua mente. Preciso que você compartilhe suas ideias comigo.

  As possibilidades são infinitas, ele me alvejou com uma nova percepção, ao mesmo tempo em que fui esvaziado. A única forma que tenho de sentir algo é em contato com outras pessoas. Eu vejo dentro delas. Eu sinto o que elas sentem. Mas às vezes o que elas sentem é demais pra mim. Não posso lidar com tanto.

- Vocês são criaturas fascinantes, mas não sabem como encontrar o ponto de ruptura. Entregam-se facilmente a seus instintos banais. Quando aprenderem a enxergar além desse tecido fino, saberão enfim, o quão belo pode ser deixar de apenas interpretar impulsos eletricos.

  Todos os dias nos últimos dez anos, eu o vejo, mas apenas por um minuto. Ele nunca me explicou o porquê, disse tão somente que um único relance de tempo era suficiente.

- Seus olhos não compreenderiam meu mundo. Quando não estiver mais preso a esta patética existência, talvez, e só talvez, eu possa lhe mostrar até onde vai à toca do coelho.

  Dessa vez ele sussurrou algo diferente. Nunca foi de seu feitio me pedir favores.

- Me faça um favor.

- O quê?

- Preciso que vá ver uma pessoa.

- Quem?

- Aquela que carrega o vácuo nos olhos.

- E o que isso significa?

- Você saberá.

- E onde vou encontrar essa pessoa?

  E antes que eu pudesse saber, ele se foi...

  Continua...

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